1. |
Janeiras (Epifania)
02:08
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2. |
A Serra é Alta
03:04
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A serra é alta, fria e nevosa
E eu tenho um peso por carregar
Levo-o nos ombros
E não sei como o dominar
Será que sabem o que dizem?
Será que o querem dizer?
Nada lhes tira o sono
Nada os mata sem saber
Eu desde sempre aqui estive,
E hei de sempre estar
Um dia leve e livre,
Ao vento a gritar
A serra é alta, fria e nevosa
E a névoa cobre-me tudo
Um passo direito em falso
Nem o vejo, nem o mudo
E é assim que eu próprio me culpo,
É assim que eu meço a razão
Palavreiem-me com tudo
Que as coisas não mudarão
A serra é alta, fria e nevosa,
Mas com este frio posso eu bem passar
Por hoje, só queria ser alguém
Só queria respirar
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3. |
Cantiga d’Amigo
04:35
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Num sudoeste distante
A nado lhe buscava
Se não me matasse
Morro antes sem saber
Se alguma vez sequer
Pelo pensamento passei
Espero o sol da meia-noite
Atravessar o mar
E ancorar em porto seguro
Que ilumine e encante
Um sudoeste distante
E lhe dê o que eu não darei
Uma vez em cada lua
Toco-lhe o rosto
Com o polegar
Sem tão pouco saber
Que dentro dos seus ossos
Estive tanto tempo a crescer
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4. |
Cantiga d’Escárnio
04:35
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Passou o mensageiro
Com um postal de ruínas
Escrito com confiança
“Obrigado pelo teu tempo”
A meia-noite chegou
De faca na mão
À distância, os risos
À distância, o esquecimento
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5. |
Meu Filho
03:14
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Meu filho
Ainda é cedo
Vais chegar, vais partir
A vida é curta
Tudo menos curta
Meu filho
Ainda és feliz
Vais desejar não o ser
Desejo não o ser
Insofrível ser
Meu filho
Vais ser homem
Vais ser vazio
Vais perguntar porquê
E porque não
Meu filho
Vais ser livre
Vais finalmente viver
O desejo de uma vida
Onde o sol se põe
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6. |
Elegia
01:00
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Sim, estou aqui
O tempo assim ditou
Branco e frio
Como a cruz e a noite
Aqui me deixou
O luto e a luz
Andam de mão dada,
Dá-me dois beijos por Deus
Uma lágrima disfarçada
Sim, cheio de graça
Cheio de paz
Guardado pela bandeira
Da pureza que aqui vos traz
Uma gargalhada,
Uma conversa,
Cheios de graça!
Deixam condolências:
Sim, estive aqui.
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7. |
Spleen
05:55
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Abrem-se as portas
Para mim e mais ninguém
Estou sozinho, mas feliz
E mal sei no que me vou tornar
Nada sei, sequer
Não escolhi isto para mim
Nunca pude dizer que sim
Mas é o que vou ter
Até ao fim
Vivi sem querer, que posso eu fazer?
Vivi sem querer, que posso eu fazer?
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8. |
Tempo
05:37
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Tenho o telhado em chamas
E espero sentado
Os sinos chamam
E as vozes respondem
“Não há tempo! Não há tempo!
Nada o traz de volta”
Dizem “dá-lhe tempo,”
Constantemente
“Não há tempo!
Não há tempo!...”
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9. |
Balada Gótica
02:59
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10. |
Natureza Morta
04:18
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Já não sou bem o mesmo
De que me recordo;
Em tempos ao espelho
Eram novos os traços
Sempre existiram,
Mas nunca importaram
Vivo com sombras
Que não me pertencem
Sonho com passados
Que não me tiveram
Enterro-os com os ossos
Ou abro-lhes a janela
“Se tens uma voz
Afirma o teu ser,
Procura algo real
que te faça ver”
E atinge-me:
Sempre foi assim,
Mas a inocência—
a infância—
Esconde o que conseguir
Há sombras
Que morrem com a noite
As que nascem com o dia
São minhas para encarar
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11. |
Inferno
06:19
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Deixa algum espaço para correr o meu ar
Já que o espaço em que me deito
Decidiste tornar no meu fim
E este é um mundo de crueldade
Mas pensei ter aberto caminho
No meu joelho viste-me contar os degraus
Afinal encontro-me sozinho
Era o inferno,
Ou o que imaginamos dele
Era o inferno,
Do que sabemos dele
À luz da tua vela sabes que gemo e choro
Será a fé o suficiente para lamentar?
…Era o inferno…
…Era o inferno…
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12. |
Encomenda das Almas
02:39
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Então, nesta hora ímpia,
Traz a noite até ao fim
Não há paz, nem lá perto
E já nada há aqui para mim
Por aqui a gente morre
Erodida pela vida
Se eu agora caísse
Nem a terra me comia
Da luz que me entra,
Projeta figuras,
Rompe a alma
E outras amarguras
Nesta terra perdida,
Já nada é sagrado
Aqui todos os sonhos
são enterrados
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